quarta-feira, 20 de maio de 2015

CARVALHELHOS ...





 Pormenor de Carvalhelhos ...
 (Foto São Vaz)

Percorrer Trás  os  Montes, é navegar na rota do silêncio. E da paz. A paz que se traduz na vastidão dos lameiros. Dos animais pachorrentos, que povoam os caminhos, aparentemente sem dono que lhes siga o rasto. E há o fumo das chaminés das casas simples mas fartas da comida e da bebida reconfortante, com que se presenteia o viajante. Também do acolhimento daquela gente boa e hospitaleira. De Boticas, são gradas as lembranças.

Recordo a vila impecavelmente limpa, os seus jardins bem tratados e aquele espigueiro junto da Câmara Municipal, a dar ao armazém onde o Homem guarda o produto do seu labor, o estatuto de monumento. E aquela calma, quase um mistério. O ar límpido que se respira, livre de fumos e do concerto de apito dos automóveis apressados. Há um equilíbrio entre a Natureza e Homem, que a respeita. À medida que vamos subindo a estrada sinuosa, em direção a Carvalhelhos, é a melancolia da paisagem que surpreende os mais atentos. A tonalidade das cores que povoam os campos, são telas dignas da paleta de um qualquer pintor inspirado. Os líquenes, que proliferam por todo o lado, são certificados de despoluição.

Lá mais à frente, viramos à direita por uma estrada estreita e alcatroada, até encontrarmos, por entre bosques e em belo enquadramento, a Estalagem. Ali, naquela unidade hoteleira, passei, por vários anos, alguns dias de inverno. Recordações inolvidáveis. Do estalar da lenha seca na enorme lareira, ao anoitecer, numa roda de amigos. O acordar pela manhã, cercado de um manto branco e a neve a bater com luvas de lã, na vidraça da janela. Os passeios pelos parques adjacentes. A simpatia das funcionárias da estalagem. Ambiente familiar, comida bem confecionada e um “cozido à portuguesa” domingueiro, como já não há. Sim, já não há.

Pelo menos ali, porque a estalagem fechou. A pretexto de umas obras de beneficiação, que em verdade estava a necessitar, os proprietários encerraram aquele meu álbum de memórias. Faço votos, para que a Estalagem de Carvalhelhos, de novo abra as portas de par em par. Com a mesma qualidade e o mesmo espírito familiar que faz de Trás os  Montes, um hino à tradição de bem receber o forasteiro.
Quito Pereira        

18 comentários:

  1. Escrito segundo o novo acordo ortográfico, pedindo a vossa paciência ...

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    1. Ora balham-tos deujes, mai-lo acordo, Quito...
      Raramente aqui (ou ali) comento, mas gosto das tuas memórias...muito!

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    2. Eu também gosto do teu português de antanho...

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    3. E porquê? Ainda não entrou em vigor...

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  2. Bem escrito,bom reflexo,linda foto.

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  3. A foto está linda e ao ler o texto invade-nos a serenidade do ribeiro e a tranquilidade das terras transmontana. Como é bom ler-te, Quito, a tua escrita acalma

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  4. Bem prega São Tomás...
    Tinha o comentário feito, não copiei e zás.FOI-SE!
    Tás a ver Viana .Também a mim me acontece e não devia acontecer.Tenho os impostos em dia! Não disse ajudas de cus(t)po!!!

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  5. Vou com regularidade a Boticas e não tenho problema de alojamento pois o parque de campismo tem as condições ideais para aí ficar na autocaravana.
    Mas entretanto, vem-me à memória um outro facto histórico. Vai para mais de 50 anos, a Carvalhelhos era a água gaseificada de maior consumo distribuída na nossa terra pela Coimbra Importadora, da Pedrulha. Tal sucesso levou a que fosse montado um negócio de contrafação que incluía o reaproveitamento das cápsulas (caricas) que nós em miúdos fazíamos objeto de coleção.
    Não sei se alguém se lembra disto, mas até tenho ideia quem era o mixordeiro.

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    1. A fábrica de engarrafamento da água, continua a laborar. São excelentes instalações e muito bem integradas na paisagem, não ferindo o equibrio da zona florestal. Recordo bem as caricas e o seu logotipo. É só até aqui, que a minha memoria avista ...

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    2. Da mixórdia não me lembro (do whisky de Sacavém, lembro-me bem...) mas das caricas até me recordo que sobre um fundo amarelado aparecia desenhado a vermelho escuro o busto de uma velha senhora com um xaile que lhe cobria a cabeça e deslizava para os ombros.

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  6. Pelos vistgo Trás-os-Montes ainda não mudou, se bem que tenha andado por outros lados. O seu socego, calma, a tranquilidade, a paz que se sente quando se lá passeia está bem descrito na postagem que o Quito trouxe até nós. Recordar é viver.

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  7. O Quito, há tão pouco tempo fora do seu Salgueiral e já com saudades da quietude, dos silêncios, da paz campesina.Com saudades de ver o Homem respeitar a Natureza.
    Com saudades do cozido à portuguesa, que jamais verá outro igual...
    Pois é, meu querido amigo, não se pode querer sol na eira e chuva no nabal...
    Aquele abraço.

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  8. Pois como disse mais acima o comentário que tinha escrito sobre esta postagem do Quito, prontinha FOI-SE por artes mágicas!
    Agora vou resumir porque a pouca imaginação pelo adiantado da hora , também se FOI!
    Seria mais ao menos dizendo que gostei deste texto e que o achei na linha dos que escrevia em Salgueiro do Campo.Será uma paisagem também rural, com elementos da Natureza, a simpatia das pessoas na Estalagem, o crepitar da lareira, o acoradar de manhã co o branco da neve, os parques verdejantes, etc!
    Ao esvrever as lembranças da Estalagem de Boticas e a referência à localidade de Carvalhelhos e suas águas, fez-me lembrar um amigo aqui do Bairro na rua Afonso de Albuquerque, vizinho da Teresa Bizaaro, o Teixeirinha-ou melhor o Armamdo Teixeira, que era distribuidor das águas de Carvalhelhos. Foi jogador do União de Coimbra.
    Ainda de Carvalhelhos qureo dizer que também um grupo de "7 magnificos" fomos felizes nessas paragens, na Casa da EIRA LONGA, numa passagem de Ano, e com um pouco de infelicidade, especialmente a OLINDA...
    Mas o "escritor lembra-se bem"....né Quito? Mas vou recordar.

    EIRALONGA

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    1. Eu joguei nos principiantes do União. Era uma azelha mas da mesma equipa fazia parte um craque, o Costa "Faztudo". O treinador era ... o Teixeirinha

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    2. O Faz Tudo era mesmo crake. Não sabia que o Teixeirinha tinha sido treinador das camadas jovens!

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  9. O acordo é uma coisa boa quando se está de acordo! Mas quando a maior parte das pessoas não estão de acordo, e o acordo é feito, à revelia, por meia dúzia de iluminados (até hoje, ninguém se assumiu como autor ou mesmo colaborador, do dito acordo), o acordo deixa de ser um acordo e passa a ser um desacordo.
    Apesar disso, o texto está excelente e fala de uma zona que muito bem conheço, pois é perto da casa da Daisy.

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  10. O Acordo que é um desacordo. Por isso, requeri a paciência de V,Exªs.
    Da Eira Longa, um sabor doce - amargo. Momentos de grande convívio, como as fotos do Senhor Ministro das Grandes Organizações provam ...e o espalhanço no Castro de Carvalhelhos da Senhora Ministra da Alegria, que lhe valeu uma perna em gesso. Mas nada que estorvasse o convívio, com a doente a ser coberta de mimos pela corte de ministros, a afifar à grande e à francesa nos chouriços, salpicões e tinto marrão. Foi uma borga !!!!!!!!!!!!!!!

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  11. Carvalhelhos foi o cenário de uma passagem de ano memorável pelos bons momentos de convívio e sã animação, porém ensombrada pela escorregadela da Olinda...

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