domingo, 30 de novembro de 2014

NOVA LINGUA PORTUGUESA...

Hoje não se fala português...linguareja-se!



Por Helena Sacadura Cabral. Utilizada frequentemente em "ciências de educação" ...

Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar aos pretos 'afro-americanos',com vista a acabar com as raças por via gramatical, isto tem sido um fartote pegado! As criadas dos anos 70 passaram a 'empregadas domésticas' e preparam-se agora para receber a menção de 'auxiliares de apoio doméstico' .
De igual modo, extinguiram-se nas escolas os 'contínuos' que passaram todos a 'auxiliares da acção educativa' e agora são 'assistentes operacionais'.
Os vendedores de medicamentos, com alguma prosápia, tratam-se por 'delegados de informação médica'.
E pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em 'técnicos de vendas'.
O aborto eufemizou-se em 'interrupção voluntária da gravidez';
Os gangs étnicos são 'grupos de jovens'
Os operários fizeram-se de repente 'colaboradores';
As fábricas, essas, vistas de dentro são 'unidades produtivas' e vistas da estranja são 'centros de decisão nacionais'.
O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à 'iliteracia' galopante. Desapareceram dos comboios as 1.ª e 2.ª classes, para não ferir a susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços distintos nas classes 'Conforto' e 'Turística'.
A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: «Sou mãe solteira...» ; agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da pungente melodia: «Tenho uma família monoparental...» - eis o novo verso da cançoneta, se quiser fazer jus à modernidade impante.
Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças irrequietas e «terroristas»; diz-se modernamente que têm um 'comportamento disfuncional hiperactivo' Do mesmo modo, e para felicidade dos 'encarregados de educação' , os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos cábulas; tais estudantes serão, quando muito, 'crianças de desenvolvimento instável'.
Ainda há cegos, infelizmente. Mas como a palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado 'invisual'. (O termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar inauditivos aos surdos - mas o 'politicamente correcto' marimba-se para as regras gramaticais...)
As p.... passaram a ser 'senhoras de alterne'.
Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça desbocam-se em 'implementações', 'posturas pró-activas', 'políticas fracturantes' e outros barbarismos da linguagem. E assim linguajamos o Português, vagueando perdidos entre a «correcção política» e o novo-riquismo linguístico.
Estamos "tramados" com este 'novo português'; não admira que o pessoal tenha cada vez mais esgotamentos e stress. Já não se diz o que se pensa, tem de se pensar o que se diz de forma 'politicamente correcta'.
 Helena Sacadura Cabral
Enviado por Isabel Rodrugues

3 comentários:

  1. Excelente comentário. É tal como penso.
    Mudam expressões para mascarar uma situação que, determinadas vezes, choca um certo grupo da sociedade, e o Estado não consegue resolver. Aí criam, por exemplo, a tal "melhor idade" porque não conseguem dar aos idosos a atenção que eles merecem, após terem dado anos de suas vidas à enriquecer os cofres públicos com os seus impostos.
    Muitos ainda trabalham pelas ruas catando lixo ou mendigando, na idade avançada... e querem me enfiar,goela abaixo, que é a melhor idade? (.........) ! Ia completar com um palavrão bem apropriado, mas este espaço não cuida disso (o da SãoRosas, sim!), para expressar minha moção de repúdio a esse "linguajar" hipócrita.
    Acham,pois,que mudando,mitigando o sentido das expressões, irão diminuir os impactos que as pessoas que nelas se enquadram, enfrentam todos os dias, exatamente nos locais onde foram criados esses novos mecanismos de...justiça (?).

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  2. Helena Sacadura Cabral é senhora que nos transmite, de forma simples e brilhante, as reflexões sobre a sociedade que é mascarada pela hipocrisia dos " senhores dos gabinetes"!

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