quinta-feira, 11 de agosto de 2011

RECORDAR RAUL MATIAS ...

...com a camisola da LA PECOL ...


É tempo de Volta a Portugal em bicicleta. Para mim, é também tempo de recordações. A partir de hoje, a caravana visita a região. Com muita probabilidade, será a Serra da Estrela que vai decidir o campeão deste ano. Confesso, que a competição, já teve para mim outro encanto. Nada como termos alguém como referência, para nos aguçar a curiosidade e até para tomarmos partido. E hoje, lembrei-me do Raul Matias, já retirado da competição. Correu por várias equipas. Tavira, Troia, Sicasal, Carnide e LA Pecol, foram as camisolas que envergou. Era um ciclista de “antes quebrar que torcer”. Ganhou algumas etapas da Volta a Portugal. Também no estrangeiro deu nas vistas, nomeadamente em Itália. Um dia, travámos conhecimento. Recordo a educação, o sorriso afável, numa cara de gaiato. Por vezes, interrogava-me: como era possível aquele homem de aspecto frágil e dócil, diria mesmo envergonhado, ser capaz de descer o Marão, a velocidades suicidas e subir a Serra da Estrela, competindo entre os melhores? Aliás, era a sua faceta de “trepador”, para usar uma palavra da gíria, que mais o distinguia. Como disse, criámos uma amizade. Ao ponto de um dia me telefonar de Portalegre, a dizer que na etapa seguinte, chegaria ao Alto da Torre entre os primeiros. “Exigia” a minha presença. Cumpriu. Chegou nos da frente, na meta instalada no cume da Serra. Fora da competição, por vezes, encontrava-o na cidade. E aí, num qualquer café, falava-me da sua vida, dos seus anseios e preocupações. E de arrumar um futuro. Um dia, encostou de vez a bicicleta. Almaceda, singela aldeia do interior de Portugal, já não aplaude o seu campeão. Fica a lenda. E o Raul Matias, hoje casado e com um rebento, visitou-me há alguns meses. E prometeu voltar, para apresentar a família. E eu, que no silêncio do meu escritório, vou observando a caminhada dos novos heróis da estrada, já não tenho o entusiasmo de outrora. Falta lá o ciclista esguio, de camisola colorida, elegante em cima da sua máquina, óculos escuros e fita no cabelo, que foi a imagem de marca do pelotão, durante década e meia. Apenas, o meu voto de que ganhe o melhor. E, já agora, que o melhor seja português.
Q.P.

27 comentários:

  1. Esta crónica (como tantas outras) ficava tão bem no nosso «Jornal do Fundão»...

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  2. Meu Caro Paulo
    Agradeço-te o comentário. Foi aqui, no meu pequeno gabinete, que escrevi este texto sobre o Raul Matias. E hoje, a poucas horas da Volta passar junto da farmácia, vinda do lado da Pampilhosa da Serra, era imperativo lembrar o valoroso ciclista desta zona. O Tempo não perdoa.O Raul arrumou a bicicleta e, no alcatrão, já não estará pintado o seu nome pelos populares, para lembrar aos adversários que tinham entrado no feudo do Raul Matias, estimado e idolatrado pela gente simples cá da Beira.
    Fica a lembrança. E fico satisfeito por teres aparecido a comentar. Por ter levado até ti, embora na vertente desportiva, um pouco do cheiro de uma região que será sempre tua, porque aqui nasceste. É o cheiro da esteva em tempo de verão.
    Abraço

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  3. Se eu soubesse que não ficarias amuado comigo, enviaria alguns dos teus textos para apreciação do Fernando Paulouro.
    Abre aço!

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  4. Faltou dizer que foi campeão nacional de estrada!

    Grande Raul !! Lembras-te daquela vez que subimos a Serra da Estrela a pé só para o ir ver ?? Aquilo até a pé era um tormento, quanto mais de bicicleta no pino do Agosto :)

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  5. Este era o teu herói do ciclismo, aquele com aabaste por ter até um relação de amizade pessoal!
    Eu confesso que não me lembro deste Raul Matias!
    Mas não admira porque só fui verdadeiramente fã do Ciclismo no tempo do Alves Barbosa!
    Uma vez na Brasileira um cliente veio ter comigo a dar-me os parabéns por ter ganho um circuito de ciclismo!!!
    Respondi-lhe que estaria a confudir-me com algum ciclista.
    Então não estou a falar com o Alves Barbosa?
    Lá o esclareci que nada tinha a ver com o ciclista:era fâ, mas nunca sequer falei com ele!
    Posterormente outras pessoas diziam que sim que eu era parecido com ele!
    Neste tempo acompanhava tudo sobre a actividade do Alves Barbosa, pois ele normalmente ganhava muitas etapas e penso que duas ou três voltas a Porugugal, quando realmente eram voltas "a todo o Portugal".Agora limitam-se a percorrer meio ou menos do território do país, deviasm era ser em vez de volta " mini-circuito a algumas regiões de Portugal.
    É conforme as vilas ou cidades que melhores ofertas em dinheiro dão!!!! Mercantilismo e não ciclismo!Mas os tempos são estes e por isso para "este peditório já dei"
    Mas gostei da tua crónica e espero que o Paulo Moura envie os teus textos para o Jornal do Fundão!

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  6. Se Quito me prometer que não me bate, é claro que envio. Mas ele já me puxou tanto as orelhas...

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  7. Eu só de ver os moços a pedalar fico cansado.
    Sou mais andar a pé por tudo que é sítio, mas com o meu andamento.
    Tonito.

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  8. PM. Como sou eu que lhe pago as ajudas de cus(t)po para ele escrever, estás autorizado a enviar!
    São Edições "Encontro de Gerações"!

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  9. Seguiu agora mesmo um e-mail para o Fernando Paulouro.
    Quito, a dares porrada, é ao Grande Chefe.

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  10. Caro Paulo
    Com o teu feitio alegre e folgazão, é difícil ficar amuado contigo. Muito menos eu. Já o mesmo não diria do João Paulouro Neves. Passaria a olhar para ti de sobrolho carregado. E nem mesmo a minha assumida simpatia pelo JF me valia ...
    A mim, chega-me a amizade dos amigos. É motivador saber que os tenho, mesmo que longe.
    Agora conto-te um episódio hilariante com o Raul:
    Um dia parou aqui junto da farmácia. Vinha com o seu reluzente fato de licra integral, azul e vermelho, as cores da Sicasal. E a sua bicicleta de estrada "Pescarollo" adquirida em Itália.Bicicleta de estrada, porque tinha outra só para contra-relógios. Então, um amigo meu, repórter da TF 1, Salgueirense de nascimento em férias, quis acompanhar o Raul com a "pasteleira" que trazia. Advertiu o Raul para irem em ritmo de passeio. O Raul partiu para Almaceda, com o Camilo a tentar acompanha -lo.
    Foi sol de pouca dura. Estranhando a demora, fui de carro à procura deles. O Raul tinha seguido para a sua terra e o Camilo estava deitado numa valeta,apenas a 3 Km de onde tinham partido, suado e roxo do esforço, à beira de uma apoplexia.
    Ofegante disse-me: se o gajo fosse correr para a p..que o p...

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  11. Está feito, está feito. O pior que podem fazer é mijar-me nas botas.
    (e esse episódio com esses amigos de pedaladas tão diferentes, é mais um mimo. P. que os p.!)

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  12. Gosto de as reportagens da Volta, principalmente quando filmam dos helicópteros!
    Hoje também vi, pois era a chegada a Castelo Branco, cidade que nos habituaste a observar com olhar mais atento.
    A cidade está bonita e informaram sobre o museu Cargaleiro, que eu desconhecia.
    O teu depoimento, acrescido do comentário do Gonçalo, revelam um dos teus heróis e amigo!

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  13. A volta a Portugal é sempre uma festa.
    Peço desculpa ao Quito por não me lembrar deste teu herói.
    Para mim o nome que ainda retenho é o de Alves Barbosa que venceu diversas voltas a Portugal e foi o primeiro português a ficar em 10º lugar na volta a França sem ter tido grandes apoios. Depois dele ainda recordo o Ribeiro da Silva e claro o Agostinho.

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  14. Anos 60....a Volta a Portugal ...com as "quericas"...cada um tinha a sua equipa...com os ciclistas, colados nas ditas. As etapas eram feitas nos "lancis" dos passeios....e ate havia a Montanha.

    Mas recordando as reportagens no final do dia, na TV..."Diario da Volta"...um ciclista do FCP....Joaquim (?) Carvalho, ao vencer uma etapa...respond ao reporter:
    Assim que vi a meta, alevantei o cu do selim....e so parei nos bracos da minha namorada.
    Mas tantos foram os "herois"....das Voltas....Alves Barbosa, Joaquin Agostinho, etc, etc, etc.

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  15. Também me lembro do ano em que o Alves Barbosa iria ganhar a 3ª volta a Portugal...mas levou um ensaio de porrada nos Carvalhos (Porto)..e lá se foi a volta!!!
    E claro o Joaquim Agostinho, pricipalmente nas voltas à França!
    Naquele tempo havia um ciclista, talvez do Sangalhos, que desistia quando a volta passava na terra dele!

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  16. Será uma festa mas estou mais na onda da Celeste Maria. Visto de helicóptero, é um bonito espectáculo.

    O problema é outro.
    No momento em que estou a fazer uma redução de despesas, já que as receitas não consigo aumentar, confronto-me com a necessidade de assinar o JF, criando nova despesa sem contrapartida nas receitas.

    QUE FAZER ?

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  17. Simples: vais para a baixa comigo. Com a minha viola e a tua voz, há-de ser só dinheiro a pingar para o chapéu.

    Vocês fizeram-me recordar, quando tinha uns 15 anos, o meu Pai levar-nos a ver a Volta a Portugal na subida da serra da Estrela. Lá de cima, começámos a ver um ciclista isolado (a meio da subida) e, muito atrás, o pelotão. Na rádio ouvíamos que era o Joaquim Agostinho. Quando passou por nós, parecia que estava fresco como uma alface. O meu Pai chamou-me a atenção para um detalhe:
    - Repara que ele não tira o cu do selim. Vais ver os outros.
    Passado um bom bocado, quando passaram os outros ciclistas... coitados, metia dó ver aqueles esgares, a chorarem suor, com os cus alevantados como o do JottaElle (salvo seja) e aos "ésses" na subida.
    Fiquei fã do Joaquim Agostinho.

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  18. Grande Paulo
    Não fosses tu um tipo com um feitio brincalhão, eu até acreditava na história do e-mail para o JF.
    Mas se por uma hipótese meramente académica o fizeste, bem podes preparar as botas,transformadas em vaso de noite. Textos como o do Matias, tem o JF ás grosas, atirados para o arquivo do esquecimento. Mas como não pretendo que fiques decepcionado, ao menos agradeço-te o empenhado esforço ..
    Toma lá um abraço

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  19. Tivesse eu os legítimos poderes de Paulouro do prestigiado JF e não desperdeciaria a publicação dos textos do Quito. Pelo regionalismo de que estão imbuídos e pela excelência da sua escrita.

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  20. Quito, não quero que te falte nada. O que seguiu foi isto:

    "Para
    Jornal do Fundão
    att. Fernando Paulouro

    Boa tarde,

    Há um amigo meu, Eurico (Quito) Pereira, que é de Coimbra e foi viver há alguns anos para a Beira Baixa. Desde então, ganhou um forte afecto pela nossa Terra. Transmite isso em textos que tem publicado, até agora, apenas para os amigos, no blog Encontro de Gerações do Bairro Norton de Matos (Coimbra): http://encontrogeracoesbnm.blogspot.com/

    Deixo-lhe aqui alguns exemplos desses textos: [no e-mail seguiu com links]

    Recordar Raul Matias (publicado hoje)

    Angústia para o almoço

    Memória & Utopia (com uma foto tirada pela esposa, São Vaz)

    O suspiro dos dias ternos

    O meu Portugal português

    Quando os lobos uivam

    Maria Mendonça

    Maria das Dores

    O clamor do tempo

    O sal grosso da ironia (onde faz referência ao nosso Jornal do Fundão)

    ... e tantos outros.

    O Quito, tal como eu, ama a nossa Terra Beirã. E é tão admirador do Jornal do Fundão quanto eu [desde sempre o Jornal do Fundão me acompanhou. O meu Pai - Rogério Moura - foi por muitos anos correspondente em Caria. Desde que vim estudar para Coimbra, mantive a assinatura do jornal, que permite manter-me ligado às minhas raízes e, nesta sociedade cada vez mais massificada e acrítica, respirar cultura]. Mas o Quito acha que o que escreve não tem qualidade. Eu não concordo e penso que poderia ser um óptimo contributo para o nosso Jornal do Fundão. O que acha?

    Saudações de um Beirão na diáspora,
    Paulo Moura"

    Já pus as botas a secar, por antecipação.
    Abre aço!

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  21. ...Parecias mesmo a São Rosas a escrever...emocionei-me!!!
    O Quito então!....

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  22. Limitei-me a escrever o que penso e sinto.
    Espero que me respondam. Se não o fizerem, de pois de regressar de férias pergunto-lhes se receberam a mensagem... como quem quer a coisa... e descalço.

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  23. Meu caro Paulo
    És um Homem determinado e levaste a tua avante.
    Por isso vou falar contigo a sério. Afinal, aquilo que pretendias e me "exigiste" num almoço lá para as bandas de Aveiro:
    Há 22 anos que estou nesta terra Beirã. O facto de me encontrar inserido numa zona rural, deu azo a que eu conhecesse muita gente com vidas sofridas. Alguns, já de proveta idade, contando-me histórias em que a realidade mais parece ficção, tal a pobreza e o sofrimento. Procurei, em alguns textos, honrar essas pessoas. E ainda hoje, vou por vezes mostrando quadros deste interior esquecido. Particularmente, recordo mais alguns textos em falei deste nosso de Portugal: "A sombra da Lua"; "Quando falo com Deus", "Duas Vidas um Destino"; "Ceifeiros"; "A noite e o amanhecer"; "A vida dos simples", "Os desígnios de Deus"; "O Duarte Ferrador" e mais dois textos que tenho em arquivo .." Um conto da gente simples" e "O granito e o silêncio".
    Como sabes, meu caro Paulo, escrevo para os amigos. Apenas e só. Não tive nem tenho pretensões nenhumas.
    Escrever é o meu passatempo, sempre que posso. Tenho procurado, com a minha prosa, dignificar a região e as suas gentes. Mesmo que seja na vertente desportiva, como foi o caso do nosso Raul Matias.
    Seria injusto, se não dissesse que o JF também tem "culpa" nisto. E se eu posso ter alguma apetência para a escrita, o Nuno Francisco do JF, com a sua bela prosa, aguçou-me ainda mais o gosto de alinhar as palavras. O JF é uma referência. Tenho-o aqui na minha secretária. É uma espécie de farol, por onde por vezes me guio para alinhar os meus pensamentos. Breve falarei de um poeta popular nascido em Juncal do Campo - Chama-se Francisco Megueijo. Por aqui, na infância, comeu o pão que o diabo amassou. Um dia escreveu um livro "Gritos sem eco". A prosa de um homem simples.Tão simples, como a sua bela escrita. Bela e telúrica ...
    Não sei que receptividade terá a tua mensagem para o Fundão. Mas é uma preocupação que não tenho nem tu deverás ter. Colaboradores de grande qualidade já o JF tem.
    Eu, enquanto puder alinhar as palavras para que façam sentido, dignificarei esta terra e estas gentes. Com aquilo que é a minha maneira de ser e estar na vida, em que a vertente social solidária esteja presente, neste mundo cada vez mais materialista e desprovido de amor pelos outros.
    Um abraço

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  24. O Paulo Moura manda dizer que abre aço (desde que ele inventou esta, é vira o disco e toca o mesmo).

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  25. > Perante o que acabo de ler, so posso concordar totalmente com o que o Paulo Moura escreveu.
    >
    > Tambem eu ja escrevi a UMA jornalista da Babel, que conheci em 2008, no lancamento do Livro do meu amigo Manuel Bastos.
    >
    > Ainda nao me respond. Das duas ...UMA! Ou foi despedida e emigrou, ou nao recebeu a "bela e encantadora prosa"... Que lhe enviei, do nosso querido amigo e "Romancista" Quito Pereira.
    >
    > Vou voltar...a carga!!! Mas agora vou escrever directamente para a Editora.
    >
    > Grande abraco para os dois.
    >
    > Jose Leitao
    >
    > Ou
    >
    > Jotta Elle (como queiram)!
    >
    P.S.

    Quito!
    Que nunca te falte aparo...para a escrita!!!

    Sao Rosas!
    Nada de deturpar o que acabo de escrever.ok? Eheheh

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  26. Eu?! Deturpar?! Vocês é que dão sempre um segundo sentido ao que para mim é o primeiro e único.

    ihihihihih

    (ainda não são 7 da manhã e aí vou eu para os Algarves)

    O Paulo Moura manda abre aços a todos [M/F, já se sabe]

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  27. A esta hora já a Rozita está com o cu enfiado nas tépidas águas algarvias.
    Burguesa!

    Nota:
    "Cu enfiado" = "estar a banhos".
    Qualquer outra interpretação é abusiva e deturpa as minhas boas intenções de lhe desejar umas boas férias.

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