sábado, 9 de abril de 2011

A propósito da nossa conversa sobre a Câmara Municipal de Coimbra...

... excerto de um artigo de Mira Lagoa Sobral na revista «C» de 31 de Março de 2011:

"Sinais dos tempos

(...) nos trabalhadores das autarquias com responsabilidades nos diversos patamares das orgânicas das respectivas autarquias em que são trabalhadores por conta de outrém (enquadrados nos sãos princípios, legalmente consagrados e do conhecimento de todos), continuam a verificar-se que são muito poucos os que resistem à tentação de só trabalharem como qualquer trabalhador subordinado. Todos se aprimoram tanto em quererem corresponder que, objectivamente, acabam por extravasar o domínio das competências específicas. Não resistem à tentação de, também, fazer política. Os políticos eleitos decidem no quadro das respectivas competências. Os Directores de primeiro grau das autarquias, na interpretação da decisão tomada e transmitida e na sua execução esmeram-se em, na maioria dos casos, deturparem. Os Chefes da Fiscalização não vêem, os das vistorias vêem mas não vêem, todos lêem mas lêem diferente, de tal forma que a decisão tomada, aquando da execução, se vê desformatada. Acaba sempre por vencer o real. E, nesta matéria, em todo o Portugal, o poder a votos, por razão do futuro destes e destes no futuro, acabam por condescender, fazendo alardeio da sua tolerância, aprovando e ratificando o desrespeito."

10 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Pois, é uma questão de mentalidade. No continente americano é bem notório a diferença entre a América Latina e a outra... Basta olhar para os países.
    Os ingleses, o que é, "É". Não há discussão do que está escrito e ficam dentro desses parâmetros.
    O latino, baseia-se na filosófia do interpretar e amelhorar. Resultado...
    Por estes lados em cada cruzamento se não há um semáforo, há um sinal de STOP.
    Se um inglês se aproximar de um cruzamento em local deserto, aonde não há casas, ele muito antes começa a ver que não há tráfego, diminui a velocidade, pára junto ao sinal, olha para todos os lados como manda o código, descobre uma cratera feita por uma fuga de água, contorna-a e segue o seu caminho.
    O latino, muito antes olha para todos os lados, não vem nada nem há ninguém, para quê perder tempo a parar? Mas que azar... lá estava a cratera a mi..r no meio da estrada.
    O Quebec é latino mas é uma ilha no meio do mar inglês. Já não é bem um nem outro.
    Quanto às cúpulas, somos governados por políticos receosos dos médias e não por estadistas, com tudo o que isso comporta até às bases.

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  3. Pois é, Chico, por cá temos sinais de proibição em sítios perfeitamente estúpidos. Algumas normas são tão absurdas que cumpri-las é que se torna imbecil.
    «In medium virtum est», como gostam de dizer por aqui.
    Abre aço!

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  4. Um artigo pertinente e bem observado.
    A resposta do Chico vem complementar com uma análise comparativa com muito interesse

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  5. A refexão é boa...e o Chico sabe do que está a falar!

    Este assunto tem muito que se lhe diga...mas fica para quem conheça os mecanismos(meandros) destas instituições!
    Há muitos anos um conhecido politico da nossa região foi convidado para se candidatar a Presidente de Cãmara.
    Recusou: disse-me ele-recusei porque tinha que dar uma "vasourada" em tantos poderes instalados, corrupção e compadrio, e sinto que não tenho força para tal!
    E a procissão lá continua...

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  6. De uma forma genérica, o diagnóstico está muito próximo da realidade.
    Não sei se a apreciação foi feita à Câmara de Coimbra ou a qualquer outra Câmara ou se às Câmaras.
    De qualquer das formas, ajusta-se "grosso modo" a Coimbra.
    Há uma tentação evidente das chefias superiores (vulgo directores de departamento) de fazerem valer a sua antiguidade no posto de comando, fingindo que não percebem que são trabalhadores por conta de outrem.
    Há outro problema que se junta a este. O autarca não se sente bem na pele de "patrão", sabe que foi eleito para decidir, apenas para decidir. A execução das decisões é da competência dos profissionais da autarquia.
    Outro problema que, embora com grande subtileza, não deixa de ser focado: o autarca tem receio do conflito com a "maquina" porque sabe que pode criar anti-corpos que o prejudique nas eleições seguintes...
    É que, bem feitas as contas, 1 500 funcionários correspondem a 4 500 votos (é normal, nestes cálculos considerar-se 3 votos por cada agregado familiar ) e esse número de votos é, em Coimbra, decisivo para eleger o novo presidente.
    Daí que, desgraçadamente, seja o alarde da tolerância que impera, o nacional porreirismo que funciona.
    Outra barreira com que o autarca se depara é a sistemática fuga às responsabilidades. Se questionado pelo não cumprimento de um despacho, o Director limita-se a dizer que transmitiu ao Chefe de Divisão e este informará que transmitiu ao Chefe de Secção e por aí fora, sentindo-se o autarca, tal e qual como o munícipe, embrulhado no labirinto da máquina.
    Este artigo de Mira Lagoa Sobral diagnostica, como comecei por dizer, muitas das doenças autárquicas.
    Diagnóstico feito, há que encontrar os remédios curativos.
    A minha receita, muito simples:
    O autarca tem de se confrontar com a "máquina". Tem poder para isso e tem o dever de o fazer mesmo que isso lhe traga custos nas "urnas". O seu dever é, prioritariamente, o de defender os interesses de quem o elegeu.
    Tem de saber apontar o dedo ao nariz do Director de Departamento e dele exigir todas as respostas. Não se pode deixar "embrulhar na teia". O Director que trate de saber junto do Chefe de Divisão e... etc.
    Tão simples, não é verdade? Mas garanto-vos que é uma receita que resulta.
    Claro que tenho a consciência que nem tudo fica resolvido. Mas garanto-vos que é um passo em frente.

    Claro que há outros problemas. A CMC tem, reconhecidamente, excesso de funcionários.
    A solução nunca pode passar pelo aumento de número de desempregados mas, isso sim, pela rentabilização do trabalho.
    Conheci um vereador que "descobriu", parece-me a mim, uma boa solução.
    Quando a Biblioteca Municipal funcionava no horário normal de laboração, alargou esse horário até às 20h, incluindo sábados. Abriu a Ludoteca e a Hemeroteca com os mesmos horários. Abriu a Torre de Anto e o Arquivo da Torre de Almedina ao público. O Edifício Chiado passou a estar aberto aos sábados e domingos.
    Os funcionários aceitaram muito bem estas decisões, também eles se sentiram mais úteis.
    Nota triste: Foi bom mas parece-me que foi sol de pouca dura. Tanto quanto sei, tudo voltou à estaca anterior.

    Dom Rafael coloca uma questão importante.
    Foi pena que o seu amigo não tivesse coragem para dar a vassourada na corrupção e compadrio.
    Olha que o tal vereador de que te falei deu algumas. Mas pequenas e poucas para as necessidades. Ele era só vereador...
    Se o gajo fosse presidente podes ter a certeza que outro galo cantaria naquela capoeira!
    Abraço para todos, isto já vai longo.
    O nosso querido PM gosta de me puxar pela língua e a Sãozita, essa então, adora meter-se comigo.

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  7. Carlos Viana

    Gostei muito do teu comentário, muito bem decorticado mas parece-me que é um problema geral em todos os países que praticam a democracia. A cãmara de Coimbra tem um número de funcionários por cidadão que se aproxima da de Montreal sem contar com os que foram admitidos a semana passada nesta localidade. Pelo que li o mel é o mesmo, só que aqui as moscas eram até à semana passada 29.000, aonde a responsabilidades vão passando de mão em mão e como aí também contam para o voto. Pelo que tenho visto neste lados, além da falta de autoridade a que te referes, a única forma é de criar em Coimbra indústrias cujas sedes sociais aí fiquem, para receberem impostos de forma a fazerem face a tão grandes despesas pois já ninguém se impõe a ninguém.
    Não sei como está aí a lei mas lembro-me que dantes a Cãmara de Coimbra devia muito dinheiro. Aqui uma cãmara não pode passar o fecho do ano com débito a não ser devidamente autorizada para casos específicos, o que acontece como é natural com grandes empreendimentos. A limpeza da neve são milhões todos os anos e como nunca se sabe se vai nevar mais ou menos, no fim do ano andam sempre a jogar com essa verba para terem qualquer coisinha disponível para o próximo ano, não venham a serem apanhados em falta, tal é o rigor.
    Por outro lado aqui o cidadão começou a reagir e quando vê uma situação inaceitável, grava, fotografa ou filma como os médias e envia para uma televisão que vai logo entrevistar os responsáveis e sai de certeza, mantendo o sigilo. Isto quer seja os eleitos, corpos directivos, funcionários, etc. Nem a polícia se safa.
    É duro mas tudo junto, já ajuda muito na disciplina.
    Se vim fazer este comentário, foi só para mostrar como disse acima que o problema é geral.

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  8. Esqueci-me de dizer que quanto à corrupção e compadrios, tenho posto em vários comentários o que se passa aqui, só que caiem que nem tordos, como se costuma dizer. Os jornalistas e agora até já os cidadãos que começaram a ficar fartos do que se vinha a passar, não lhes dão chance e até se descobriu que em alguns casos a mafia trabalha por trás de tal maneira, que nem os eleitos têm conhecimento. No entanto, essa gente e outras sociedades secretas, controlam vários organismos.
    Um abraço.

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  9. Viana, não é bem meter-me contigo. É que tu sabes que sou lésbica...
    De resto, o que dizes é o que penso também: uma organização, seja pública ou privada, que seja gerida com um "deixa andar", torna-se ineficaz e um sorvedouro de dinheiro. No caso das Câmaras, o problema é que não são geridas pelos órgãos eleitos. Há muitas "zonas cinzentas", como eu gosto de chamar às "terras de ninguém" e que são aproveitadas por quem se mexe melhor lá dentro... que são, naturalmente, os quadros que lá trabalham. Mas isto não é linear nem simples, como alerta o Chico e tu expões muito bem.

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