sábado, 29 de janeiro de 2011

A UNIVERSALIDADE DO AMOR



Em frente à sala de estar, tenho um jardim interior envidraçado que, frequentemente, observo pensativo, absorto, só com a suave música de fundo a pautar a minha placidez.
Enterrado no sofá, não dou pelo passar do tempo, deixo correr livremente o pensamento, sem peias, pelas recordações do passado, pelo rotineiro presente, pelas utopias do futuro, pela beleza do que nos rodeia.
Admiro as brilhantes gotículas da chuva a deslizarem, como pérolas, pelas folhas das plantas.
Algumas vezes, como ontem à noite, abro a porta de vidro que dá acesso ao jardim e vagueio no meio daqueles seres vegetais, imperceptivelmente sensíveis, que parecem corresponder e retribuir as carícias que lhes dou com o toque macio dos meus dedos.
Depois vou me deitar, envolvendo-os num olhar de despedida.

Esta manhã, depois de acordar e de ter ido à casa de banho, passei apressado pela sala, antes de ir preparar o pequeno almoço.
Estaquei silencioso, imóvel... Incrédulo! Surpreendido!
Um casal de jovens volteava no sofá!
Agitados, abraçados, fundidos num só, em frenéticos movimentos crescentes, obviamente deliciados, indiferentes ao mundo, no auge de uma orgia de sexo explícito, nem deram pela minha presença.
Devo ter me esquecido de fechar a porta do jardim e permiti com essa distracção, que aqueles jovens invadissem a minha casa.
Dali a pouco, aquelas duas belíssimas borboletas, já saciadas, esvoaçaram lado a lado, em direcção à rua, sacudindo as maravilhosas asas multicoloridas…

Rui Felício
12/05/2010

17 comentários:

  1. TERESA LOUSADA DE MENESESjaneiro 29, 2011 11:00 da manhã

    Mais uma vez, nos aguças o apetite com a tua escrita romântica, plena de intenções...imaginamos...!!! e de repente, somos "sacudidos" pelo suave barulho do bater de asas dessas lindas borboletas.

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  2. Ainda bem que não interrompeste o amor desse jovem casal, eles têm uma vida tão curta!...
    Como sempre uma belíssima história de amor e paixão! Que nos prende até ao fim, de tão bem escrita!

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  3. Até eu esvoacei quão doce borboleta...esperando
    o meu par esvoaçante para curtir um momento tão
    doce,nesse teu jardim paraíso!
    Que bonito falar de Amor de uma forma tão bela
    e sublime...

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  4. Mais um bonito texto. Uma forma colorida e sublime de falar do Amor.A sensibilidade do Rui Felício ao correr da pena.Tal como eu, caro Rui, também a São ficou presa ao texto, e manda-te um beijo.
    Bom fim -de - semana. De preferências com quaisquer outros seres alados a esvoaçar no teu jardim. É a forma de nos continuares a presentear com o teu imaginativo talento ...

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  5. Através desta sublime exaltação do Amor ficamos sem saber até que ponto o "efeito borboleta" fez repercutir ou não o caos no outro extremo do planeta. O que ficamos a saber é a alegria daquele bater de asas daquelas borboletas que, sem saberem como se encontravam perto do seu findo, com a força daquele ato deram um impulso à continuação da vida.
    Continuas, e bem, a surpreender-nos, Rui Felício.
    Continua a inspirara-te nesse teu jardim, deixa voar a imaginação, ficamos a aguardar novas reflexões com as habituais e surpreendestes conclusões, que nos fazem sorrir e saber que é bom poder continuar a ler-te.
    Um abraço
    Abílio

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  6. Chiça, que é lindo!
    Vai esvoaçar também para o blog porcalhoto.

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  7. perante este texto e outros semelhantes bem gostaria também de comentar com frases bonitas que exaltassem o amor, mesmo sendo os protagonistas um casal de aladas(desconheço por ignorância se há borboletos), limito-me assim a escrever que aprecio sinceramente estas estórias que imaginas e que partilhas com todos nós!
    É um exercício de leitura que dispõe bem que logo nas primeiras linhas nos atiram para uma curiosidade suspensa, de tentar imaginar qual será desta vez, o desenlace escolhido!

    Nota: nos tempos que correm é bom que não te distraias em deixar as portas abertas, pois corres o risco de em vez das borboletas os intrusos serem doutra espécie-os chamados amigos do alheio-fazerem outro tipo de trabalhinho,não esvoaçam...mas saem em bico de pés!

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  8. Chiça que a São Rosas além do chiça só comentou e bem com 9 letras e um ponto de exclamação!
    Sei que estas 9 letras esvoaçam direitinhas ao teu coração!

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  9. O Rui, com um amoroso episódio doméstico, deu-nos um cheirinho à Primavera que se aproxima!
    Ao iniciar a leitura, pensei que algo se iria passar com os peixinhos presos na parede...
    Mas, era demasiado evidente para a criatividade do Rui Felício.
    Brindemos ao amor!

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  10. Ainda bem que a porta ficou aberta. Todos podemos ver o amor puro no simbolo destas duas borboletas. Como algumas chegam a viver à volta de dois meses, é possível que ainda voltem... Sobre o poder creativo nem vou escrever, prefiro ir lendo.

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  11. Ficou por contar o diálogo, entre as duas borboletas, quando esvoaçavam alegremente saindo do jardim interior do Felício.
    - Apanhei um grande susto - disse uma - quando vi aquele homem observar-nos. O ser humano é perigoso, tive receio que interrompesse o nosso amor com alguma agressão selvagem.
    - Falta de poder de observação, minha querida, - respondeu a outra - então tu não viste que ele acariciou as plantas? Quem ama as plantas, ama as borboletas, ama a Natureza.
    - Tens razão, - admitiu a outra - o humano é um ser muito complexo. Já percebi que há homens e Homens.

    E continuaram a esvoaçar, lado a lado,sacudindo as maravilhosas asas multicoloridas…

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  12. ...bem complementado com o diálogo do Viana!
    Entras muito bem e já te o tem dito no clube dos "escritores"
    Não tens é tempo...

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  13. O Carlos Viana não tem tempo, diz o Rafael, tenho de acreditar...

    Em compensação tem preguiça!

    E esta é, quanto a mim, a razão decisiva para ele não querer usar o grande talento que tem para "passar ao papel" aquilo que pensa, partilhando connosco as suas ideias, o seu humor, o seu saber.

    Digo-o de há muito e muitas vezes. E água mole em pedra dura...

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  14. Depois de ler o belo texto do Felício, tenho que voltar aqui: Este Viana, senta-se na plateia, e vai dizendo de sua justiça. Esconde-se atrás de um cigarro, para dizer que não sabe escrever, ou que não quer. Depois trai-se a si próprio, e lá vem uma prosa que é sua própria matriz de escrita.
    Escrever, meu amigo Viana, pode considerar-se um passatempo, um exercício mental. Colabora com aqueles que vão escrevendo. Percebo o que é esta coisa de dar a cara, de ser "herói" de uns e "réu" de outros. Ou até só "réu", de quem faz do maldizer uma profissão de fé. Disseste-me, e sei que és, frontal. Por isso te digo também, com frontalidade, que não te encolhas na barricada. Há muito sobre que escrever. E não apenas escrita de "intervenção social". Experiências, viagens, tanta coisa. Olha, por causa de um texto da Mariazinha Leão sobre o Eusébio, veio logo à baila uma recordação. Falta-me digilalizar uma fotografia para enviar um texto sobre ele. Sei que para o Felício, é uma desilusão, no sentido de que gosta de coisas mais elaboradas, de quando me meto no "melancólico" ambiente das vidas sofridas da Beira Baixa. Mas é preciso que haja tema. E nem sempre é possível textos, quiça, mais elaborados...
    Abraço a ambos

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  15. Isto é um caso sério... todos os dias venho ver o que há de novo neste blog e fico sempre surpreendida! Rui Felício, que maravilha! Esse teu jardim interior, pede meças ao meu jardim dos pensamentos (que é exterior)onde me acaricia a brisa, me acena o centenário pinheiro manso, me envolve o verde feito relva! Quanto a borboletas só vi uma, "de asas branquinhas e pretas"... morreu, na barriga de um gatinho!
    Espero ter-te feito sorrir... e fico a aguardar a tua escrita.
    Obrigada, amigo.

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  16. Que bom teres esse jardim chamado "coração" que te deixa respeitar e amar tudo e todos que te rodeiam.
    Adorei o texto e sabes que também gosto de ti.Um beijo grande.

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