segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

PLUTARCO NO ALMOÇO DE NATAL


O Luis formava com a Marta o casal perfeito, num casamento feliz e bem sucedido.
A Sónia, sua antiga namorada, nunca lhe perdoou que a tivesse trocado pela Marta.
Mais por se sentir ferida no seu orgulho do que por razões de amor.
Vingativa, fazia constar, primeiro em surdina, depois cada vez mais explicitamente, que o Luis tinha mau hálito e que, por isso, ela evitava beijá-lo, quando eram namorados.
Quando tal lhe chegou aos ouvidos, o Luis perguntou à sua mulher porque é que ela nunca lhe tinha dito que ele tinha mau hálito.
- Preferia sabê-lo por ti do que por estranhos, disse-lhe ele, agastado.
A mulher explicou-lhe que o amava muito e que nunca lhe tinha falado nisso com receio de o ofender ou envergonhar.
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Vem esta pequena ficção ilustrativa, a propósito de, em conversa com o Rui Barreiros no almoço de Natal de sábado passado, em Coimbra, ter ficado a saber que ele agora se dedica ao estudo dos clássicos, deixando o Direito para segundo plano.
Falámos de alguns, entre os quais Plutarco, filósofo cujo legado sempre me seduziu e que defendeu que devemos tirar proveito dos inimigos, em vez de os ostracizar.
Porque é por eles e não pelos amigos que mais rapidamente ficamos a conhecer a crueza da verdade, desde que saibamos destrinçar na informação recolhida, os boatos que por vezes são lançados para gerar o descrédito.

Todos temos virtudes e defeitos. Ainda que sob a capa da falsa modéstia, o narcisismo intrínseco que relutamos em admitir, leva-nos a sobrevalorizar aquelas e a minimizar aqueles.
O reequilíbrio desta deformada visão da realidade, de que genericamente padecemos, deve fazer-se através dos inimigos e não dos amigos, por estranho que pareça.
Os amigos, por razões de estima pessoal, tendem a ocultar-nos a verdade que nos fere ou desagrada.
Ao contrário, são os adversários ou inimigos que, justa ou injustamente, não desperdiçam nenhuma oportunidade de denunciarem ou publicitarem os nossos defeitos.
Rui Felício
NOTA: A conversa resultou do pedido que fiz ao Rui Barreiros para que escrevesse de vez em quando algo no blogue, dada a sua larga e reconhecida experiência profissional e conhecimentos jurídicos. Foi para me explicar que lhe faltava o tempo, porque agora andava assoberbado com o estudo dos clássicos, que se gerou a interessantíssima conversa.

15 comentários:

  1. Dizia-me há dias o Fernando Rafael, da "necessidade" de alguns amigos escreverem no blogue, para, por vezes, não se cair num certo vazio. Num texto que fiz "Ainda a Neve", procurei fazer eco das palavras do Rafael. Daí, o meu entendimento de que o Felício partilha da mesma opinião, ao convidar o amigo Rui Barreiros a dar a sua preciosa colaboração. O tema agora apresentado, é de facto merecedor de reflexão. Vive-se hoje, talvez até mais do que ontem, numa viscosa hipocrisia.E se é verdade que por aí se exibe falsa modéstia, temos que fazer a justiça de reconhecer que anda por aí muita gente que tem consciência das suas limitações. Esses,normalmente, e em meu entender, são os trucidados do sistema. Porque a verdade - melhor, a minha verdade - diz-me que hoje se exorbitam competências que se não têm para atingir determinados fins. Há por aí muitos chamados "vencedores da "vida" que não chegam aos calcanhares de muitos outros, que, pela forma de ser ou estar na vida, nunca saíram da penumbra.Penso que a tal oportunidade que um adversário ou inimigo tem, de não desperdiçar o ensejo de de rebaixar, denunciar ou difamar alguém, vale o que vale. Mas, por vezes, para o atngido, pode ser um motivo de reflexão sobre a validade da argumentação. De facto, o Rui Barreiros, dados os seus profundos conhecimentos, bem poderia dar a sua fundamentada opinião,
    Nota: O Rui Felício, por amabilidade, resolveu não colocar o texto dele no início do blogue, sendo que é posterior ao meu. Fêz essa "habilidade" por deferência para comigo. Sem a tal "falsa modéstia", este texto, tem muito mais "substância" do que o do microcosmos de Salgueiro do Campo. Peço o favor ao Fernando Rafael de colocar o tema do Felício em destaque. Se eu o soubesse fazer, já o teria feito ...
    Abraço

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  2. Assunto, com muita profundidade.
    RUI, ENTRA.
    Tonito.

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  3. Ó Rui Felício, não queres ser meu inimigo? Eros e Atena...

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  4. Amigos e inimigos...curiosa e verdadeira a tua perspectiva.
    A conversa foi interessante e a sugestão do Felício oportuna...foi pena o Rui Barreiros não ter tempo por causa do estudo dos clássicos!
    Eu direi como o Tonito: RUI,ENTRA.

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  5. Pronto já ouvi falar neste senhor do antigamente e que dá pelo nome de Plutarco!
    E segundo o Rui Felício diz coisas acertadas:
    "devemos tirar proveito dos inimigos, em vez de os ostracizar"
    Nunca tinha pensado nisso, mas também não admira porque nem sequer pertenço á familia de Plutarco!
    Mas primeiro tenho que arranjar um inimigo e depois sim vou aplicar a teoria!
    Também dá para os inimigos de estimação?
    Mas será o que escrevo um comentário decente?
    Eu entendo que não!
    Mas o culpado é o Quito,que no comentário diz aquilo que eu gostaria de escrever e também não fica bem vir para aqui dizer: "Rui Felício faço minhas as palavras que o Quiro escreveu!"
    Assim digo "coisas sem sentido" mas são minhas!
    Se não aprecias, o problema é teu!
    Eu por mim gosto do que escreves!
    AH! mas o Rui Barreiros não tem tempo...

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  6. Grande a distinção de termos presente, no almoço de Natal de malta amiga, a presença do grande filósofo Plutarco!
    Será que gostou da canção do Coro dos Matulões?
    Sim, inimigos do decoro, da vergonha, das boas maneiras, eles são manancial para retórica filosófica!

    Reflitemos sobre as questões que os Ruis, Felício e Barreiros,estudaram e nos fazem pensar.

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  7. Grande Rui! Interessante a tua imaginação para escrever um texto com esta classe!
    Cada um, que interprete como entender... Depende de quem lê!

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  8. Interpretas muito bem, Alfredo!
    Com a classe do Rui e algum humor de outros, há umas verdades que se inferem!

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  9. Esse tal de Plutarco não era burro, não senhor!

    E também nada têm de burros os nossos amigos Ruis...

    É um texto fantástico, Felício.
    A tua ficção ilustrativa, em duas penadas, exemplifica com total clareza o pensamento do filósofo. Que, não sendo difícil de entender, é difícil de aceitar graças ao narcisismo que todos relutamos em admitir...
    Muito bom,e mais não digo porque nada acrescentaria.

    Quanto a uma maior participação do Rui B. no blogue, espero que os diversos pedidos aqui expressos o motive. Vamos ver...

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  10. Plutarco que foi sacerdote do Templo de Delfos, foi a justificação do Rui Barreiros para a falta de tempo e o motivo inspirador do Rui Felício para este excepcional e interessante texto.
    Só agora o li, mas que desperdício o meu...
    Um abraço
    Abílio

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  11. Não haja dúvida. De uma conversa amena,fazer um texto com uma lição destas... A cada um, como o ler. Valeu a pena ter sido escrito.

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  12. Interessante voltar a ler este texto!
    E deixa-me a pensar...Em 3 anos muita coisa muda e até a minha opinião,em parte,mudou.
    Passei a conhecer melhor "os falsos amigos" e esses são capazes de tudo,nas nossas costas...
    Talvez a minha longevidade me tenha dado mais clareza para observar e sentir melhor o que transmites no último parágrafo e quiçá "ser defensiva".

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    1. Procuro a proprietária da casa sita no Largo do Jacinto em Caria onde viveu a Senhora Marquinhas e que agora pertence á filha com quem gostaria de contactar. Penso que é o nº 13 que tem entrada pelo pátio (Beco) do jacinto. Procurei na net e encontrei a referência a Marquinhas - Cantadeiras da Caria -. Se alguém souber agradeço. Meu mail joao.hipolito67hotmail.com assino João Hipólito

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    2. Boa tarde, João Hipólito.
      Sou de Caria e conheci muito bem a Marquinhas. Mas já vivo fora de Caria há cerca de 40 anos e não conheço a filha dela nem tenho contactos.
      Não conhece ninguém em Caria, que o possa ajudar?

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