terça-feira, 23 de novembro de 2010

MEMORIAL A MIGUEL TORGA EM COIMBRA SOBRE O RIO MONDEGO!


Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha, um dos maiores escritores que a literatura portuguesa conheceu, com vasta obra publicada: poesia, conto, romance e teatro. Nasceu a 12 de Agosto de 1907, em S. Martinho de Anta, no distrito de Vila Real. Ingressou, em 1928, na Faculdade de Medicina de Coimbra, onde se formou em 1933. E foi em Coimbra a cidade onde viveu mais de quarenta anos e onde exerceu medicina, a par com a criação literária. Coimbra foi, também, a cidade onde morreu a 17 de Janeiro de 1995.
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A Cidade de Coimbra, através do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra, homenageou o conceituado escritor MIGUEL TORGA em 12 Agôsto de 2007, data em que se assinalou o CENTENÁRIO do nascimento do escritor.
Assim, nessa data foi inaugurado o MEMORIAL ao escritor que é uma obra de co-autoria do Arqº José António Bandeirinha e do artista plástico António Olaio.




Frases de Miguel Torga na parte de Cima do gradeamento
sobre o MEMORIAL , por cima das águas do MONDEGO.








CARLOS CARRANCA-DESTINO.
Poema de MÍGUEL TORGA, vozes de Ana Paula, Joana Teixeira e Carlos Carranca, fundo musical de Marco Medeiros
O passeio com pedra de Trás-os-Montes em direcçaõ do Memorial
Inscrição no inicio do passeio

O MEMORIAL SOBRE O MONDEGO...

...em direcção ao seu consultório na Portagem...

...onde hoje está o Montepio....
Fotos de Rafael
Texto adaptado ao tempo: de Salazar Casanova(net)
marcadores:Combra-Miguel Torga

10 comentários:

  1. É um orgulho para Coimbra e para quem lá nasceu e viveu, ter tido este grande escritor a estudar, a trabalhar, a escrever e a viver no seu seio durante tantos e tantos anos.
    Deixou uma notável obra, toda ela transpirando o humanismo de um grande Homem que será admirado para todo o sempre.
    A sua simplicidade e inabaláveis princípios terão sido as razões, quanto a mim, para nunca ter sido galardoado com o prémio Nobel da Literatura, que indubitavelmente merecia.

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  2. Miguel Torga, de seu nome Adolfo Rocha. Esbatia-se a fronteira entre o médico e o escritor. Como escritor foi enorme. Como médico, tratou-me. Uma impertinente otite, fez-me acorrer aos seus serviços. Recordo o seu consultório da Portagem:por escada sombria se subia, e, ao entrar á porta, do lado esquerdo, uma simples cadeira de madeira com braços. Em frente à porta uma pequena secretária, onde repousava uma pequena máquina de escrever de cor negra. Enrolado no rolo da máquina, uma folhe A 4, onde começava um poema: "O pé tolo". Não sei se alguma vez foi públicado. Era homem de poucas falas. Enquanto eu lhe ia falando das minhas maleitas, trabalhava de forma maquinal. Nunca me aparou as lamúrias. Trazia, quiçá, nas veias a secura das terras transmomtanas.Depois de curado, regressei ao meu andar. "Falava" com ele quando lia, página a página, os "Contos" e "Novos Contos da Montanha".Arrepiava-me com o "Alma Grande" nas suas funções de "abafador". E a vida dificil do Robalo, contrabandista. Também as desventuras do senhor Ventura, livro do mesmo nome. Um dia, ouvi um zum-zum que estava indicado para prémio Nobel da Literatura. Marecia-o. Mas nunca Lho deram. Nunca foi reconhecido nos interesses e estreito conceito dos homens. Tê-lo-à sido, certamente, no concilio dos deuses.Porque é aí que vivem os que vivem para além da morte. Fica este poema de "Orfeu Rebelde":
    Orfeu Rebelde, canto como sou
    canto como um possesso
    Que na casca do tempo, a canivete,
    Gravasse a furia de cada momento
    Canto a ver se o meu canto compromete
    a Eternidade do meu sofrimento.

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  3. De todos os seus livros aquele que conheço melhor, e que será talvez o mais lido, é os "Novos Contos da Montanha", não obstante ter sido escrito quando ainda jovem médico. Destes contos, recordo especialmente Teias de Aranha, O Caçador, Mariana e Fronteira. Em qualquer deles, redigido numa escrita simples e directa, perpassam as suas raízes transmontanas a dois passos da raia de Espanha, o viver campesino, os sacrifícos das fentes rurais, a moral e a honra de pessoas simples que comiam o pão que o diabo massou para poderem sobreviver.
    Sentindo-se naquele homem, já citadino, a solidariedade humilde, a admiração expontânea, para com os seus conterrâneos.

    Pode parecer exagero, mas escrevo isto e, salvaguardadas as distâncias literárias, sinto um tremendo paralelismo com os sentimentos do Quito e com a sua forma descritiva de escrever, quando relata as gentes, os lugares, as dores e as lutas silenciosas da "sua" Beira-Baixa...

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  4. O meu encanto por Torga é enorme!
    SER POETA
    O que é bonito neste
    mundo,e anima,
    É ver que na vindima
    De cada sonho
    Fica a cepa a sonhar outra
    aventura...
    E que a doçura que se não
    prova
    Se transfigura
    Numa doçura
    Muito mais pura
    E muito mais nova
    Miguel Torga

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  5. Em 2007 assisti á inauguração deste MEMORIAL!
    É um escritor que muito admiro e de quem Coimbra muito se orgulha!

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  6. Do Dr. Adolfo Rocha, só tenho boas recordações, pois tive o privilégio de privar pessoalmente com ele, através do banco onde trabalhava, e onde era cliente assíduo . Era uma pessoa muito simpática, chegando a dar-me o prazer de algumas conversas.
    Assisti por assim dizer, ao declínio deste grande senhor, porque continuou a sair, até as pernas lhe pregarem a partida. Um certo dia, ao despedir-se de mim, "senti" que não o veria mais,e assim aconteceu. Temos cá em casa,1as e 2as edições de livros que pertenceram ao meu sogro, e que ficaram para o Carlos.
    Enfim,também ele da Lei da Morte se Libertou...

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  7. Também eu, por várias vezes, fui ao seu consultório, pois sempre sofri do nariz, ouvidos e garganta.A consulta para mim era gratuita, uma vez que o meu pai era amigo do Dr. Adolfo Rocha.
    Conversavam muito sobre Trás-os-Montes, sobre as suas origens e meus pais foram mesmo visitá-lo a São Martinho de Anta.
    Um homem de perfil austero, mas uma simpatia quando conversava!
    Tenho muitos dos seus livros e gosto particularmente dos "Diários"e de "Os Bichos", que lia aos meus alunos e que os fascinava.

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  8. Caro amigo Don Rafael!

    Leio Miguel Torga:


    "Natal divino ao rés-do-chão humano,
    Sem um anjo a cantar a cada ouvido.
    Encolhido
    À lareira,
    Ao que pergunto
    Respondo
    Com as achas que vou pondo
    Na fogueira.

    O mito apenas velado
    Como um cadáver
    Familiar…
    E neve, neve, a caiar
    De triste melancolia
    Os caminhos onde um dia
    Vi os Magos galopar…

    Miguel Torga

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  9. No momento em que vi este post, saltou-me a intenção imediata de o comentar.
    Mas. reprimindo o primeiro impulso, retardei.
    Razão simples e complexa, passe o paradoxo:
    Por Adolfo Rocha, o homem, resta-me uma reservada opinião pessoal que, como tudo o que é pessoal, guardo para mim próprio.
    Por Miguel Torga tenho aquilo que se poderá chamar de uma autêntica veneração.
    Não sei se lhe deveria ter sido atribuído o "Nobel", para mim, ele é Nobel!

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  10. Enquanto cidadão quero aqui agradecer o enaltecimento deste monumento, pois, até hoje, não pude ver qualquer referência à sua presença na cidade,positiva ou negativa, exceptuando aquando do momento da sua inauguração.
    Enquanto arquitecto, juntamente com a arquitecta Teresa Grandão Silvestre, acompanhei os autores deste Memorial Miguel Torga, José António Bandeirinha e António Olaio, no seu desenvolvimento e por isso sinto o dever de trazer aqui alguns aspectos da sua concepção.
    O Memorial é composto por vários elementos mas todos eles fazem parte do seu conceito global e sem algum deles este Memorial se perderia. O título da obra (Memorial Miguel Torga) e o momento da evocação (1907-2007), gravados na chapa metálica encastrada no pavimento calcário da cidade onde decidiu viver dão o mote inicial a um percurso de vida simbolicamente abstractizado. Tal como por vós referido, o xisto elogia as origens do autor, sempre carreadas para a sua obra de cariz global, criando uma dinâmica de movimento unidrecional e de ruptura dos percursos transversais dos peões. A sua permanência em Coimbra, onde produziu a quase totalidade da sua obra, conferiu-lhe a imortalidade e excepcionalidade para as quais o troço de gradaria em bronze num conjunto de ferro procura remeter. O fruidor do monumento, contempla as águas do Mondego com o contraste do pseudónimo maciço a voar sobre elas. Os versos escolhidos pelos autores do Memorial no conjunto da obra do escritor, dotados de uma ambiguidade genial, que se poderia quase ter como um ferrete na vida de todos os que vivem Coimbra com paixão mas sempre imbuídos de lucidez, constituem um oferta íntima e silenciosa àqueles que se deixaram enlear pelo percurso. O xisto perpassa a gradaria e vai apoiar-se nos tipos da Gráfica de Coimbra, que sempre materializaram as palavras do autor, simbolizando esse “voo da palavra” a projecção da sua obra e do seu pensamento para a universalidade.
    Não podendo aqui e agora transcrever a memória descritiva apresentada a concurso pelos autores, não quis deixar de aqui vos trazer o que dela me recordo de ter interpretado.
    Obrigado pela vossa presença on line.
    Luís Paulo Sousa

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